Este artigo explora a subrepresentação de mulheres na ciência, os obstáculos que enfrentam e as consequências para a sociedade. Destaca a necessidade de combater preconceitos e promover a igualdade de género para alcançar um futuro mais próspero e inovador.
A presença de mulheres e meninas na ciência representa um ganho inegável para a sociedade. Os avanços científicos realizados por mulheres são inúmeros e beneficia a todos. Em áreas em expansão, como as tecnologias de informação e computação (TIC), a necessidade de empregabilidade só poderá ser suprida se for combatida a subrepresentação feminina.
Um estudo de 2023 indica que, caso até 2027 o número de mulheres em profissões TIC dobre, o Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia aumentaria em 600 mil milhões de euros. Para que meninas e mulheres possam contribuir plenamente, é essencial combater preconceitos e promover a sensibilização e a consciencialização. Em Portugal, o número de mulheres a concluir o ensino superior na área das ciências e tecnologias é um dos mais elevados entre os países da Europa.Apesar disso, as mulheres ainda enfrentam obstáculos estruturais na investigação, e muitas delas optam por não seguir a carreira científica devido a essas barreiras. As investigadoras no início da sua carreira são particularmente afetadas por desigualdades significativas, que as impedem de ascender nos escalões profissionais. Embora as mulheres representem a maioria dos estudantes no início do curso, a sua taxa de abandono aumenta a cada etapa da vida académica. Um estudo de 2019 demonstrava que no início da carreira, há uma distribuição quase equitativa entre homens e mulheres ao nível do cargo de professor auxiliar (54% de homens contra 46% de mulheres), mas essa proporção desequilibra drasticamente à medida que se sobe de escalão: 75,3% dos catedráticos são homens, contra apenas 24,7% de mulheres. Entre os diversos fatores que explicam esta discrepância, o mérito não será um deles. Há quem acredite cegamente na superioridade do mérito, mas estudos demonstram que este é independente do género. O problema não está nas capacidades, e sim nas desigualdades daquilo que é exigido a homens e mulheres, e que faz com que estas últimas enfrentem muitos mais obstáculos e tenham uma presença muito menor do que os homens em cargos de topo, na ciência e não só.Claudia Goldin, da Universidade de Harvard, ganhou o Prémio Nobel da Economia em 2023 pela sua investigação sobre as disparidades de género no mercado de trabalho ao longo da história. Este estudo verificou que a maior parte da diferença salarial entre homens e mulheres surge, em grande parte, com o nascimento do primeiro filho, com clara desvantagem para as mulheres, sobre as quais recai ainda a maior parte das responsabilidades domésticas e parentais. Para muitas cientistas, a participação em conferências ou projetos internacionais é muitas vezes acompanhada pela pergunta: como faço com os meus filhos? O modelo actual de investigação por três a seis anos, seja uma bolsa de doutoramento ou um contrato de emprego científico, é precário para toda a gente, mas sobretudo para mulheres com filhos, que na hora de assegurar o sustento da prole não podem improvisar. Recentemente, uma investigadora numa fase particularmente produtiva da sua carreira profissional, que incluía um período bastante prestigiante como professora visitante numa universidade norte-americana, viu-se literalmente a braços com responsabilidades acrescidas, pois logo no início da estadia um dos filhos teve um problema de saúde grave, que o deixou nos cuidados intensivos do hospital durante vários dias, e agora requer cuidados médicos diários e continuados. A investigadora está sozinha no estrangeiro com os dois filhos. Os dias são passados entre as responsabilidades académicas e de investigação, e as tarefas do cuidar, que envolvem ministrar várias injeções de dia e de noite, monitorizar resultados, idas frequentes a consultas (por vezes noutra cidade), numa privação de sono que naturalmente tem efeitos muito negativos na sua saúde. Escrever livros e artigos científicos é praticamente impossível – mas os seus indicadores de produtividade serão avaliados pela mesma tabela do que os dos seus colegas homens, com ou sem filhos, que estatisticamente podem dedicar mais tempo à investigação. Neste cenário, interromper o programa de internacionalização não é uma opção, e para evitar todos os possíveis efeitos negativos na carreira, a investigadora vai empurrando o mundo com a barriga, fazendo seminários, palestras, dando aulas e escrevendo artigos, ciente de que o estrago na saúde física e mental é, muitas vezes, o preço a pagar pela conciliação familiar e laboral, num mundo em que ainda se espera que as mulheres tenham superpoderes para aguentar tudo sozinhas
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