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Morreu no dia 4 de fevereiro, em Lisboa, onde nasceu e sempre viveu, a muito destacada e marcante escritora – poeta, ficcionista, cronista –, e mulher de “causas”, que deixa uma importante obra. Aqui escreve sobre ela e a sua obra, nas suas várias vertentes, o nosso colunista António Carlos Cortez
o que essas “novas cartas” inauguram é um fazer verbal absolutamente novo, prolongando o diálogo entre os anos 60 e 70 e as vanguardas de início de novecentos, num processo de fabricação de uma estranha, e por isso criativíssima expressão lírico-romanesca Se esse combate é um combate por Eros, é-o porque é a escrita da poesia se faz combate pela vida num tempo de recrudescimento de novos paternalismos. MTH perseguirá sempre a palavra vivificadora, cantabile, cultivando uma brevidade que espelha bem quanto a sua voz não era compatível com grandiloquências e retóricas declarações de princípio.
Com os seus companheiros de aventura editorial da Poesia 61 , não hesitará em gravar o erotismo dos beijos na cidade asfixiante como mandamento . Em 1971, depois dos decisivos livros da década anterior onde o eco das albas e das barcarolas é resgatado , aprofunda-se o diálogo com a figura do anjo, ou o tema do angelismo que, de resto, era ainda uma forma de filiação de MTH com certas zonas da nossa poesia da década de 50 .
Livro essencial, pois: para dizer o tópico da tristeza, a saudade, o motivo da mãe, o amor como vício e veneno, de camoniana linhagem; para reequacionar os lugares do lírico escrito pelo feminino, os textos desse livro põem em funcionamento um eu introspetivo , em conflito com a cisão que, necessariamente, tem de se posicionar perante aquele “falar” masculino em poesia que, por ser fala, é o símbolo – o falo da fala – a enfrentar.
Há um aspecto essencial a ter em conta para voltar a lê-la, e que, a meu ver, deriva dessa teia de relações ora subtis, ora mais evidentes, entre a construção dos seus livros e textos e a conceção da literatura como um grande corpo de textos a fruir e a conhecer, prazerosamente, com o júbilo de uma aventura amorosa.
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