Carlos José Fontes Diegues, conhecido como Cacá Diegues, faleceu aos 84 anos no Rio de Janeiro. Ele foi um dos fundadores do Cinema Novo brasileiro, conhecido por seus filmes que retratavam o Brasil rural e a cultura popular.
Ao lado de Glauber Rocha, Leon Hirszman, Paulo Cesar Saraceni ou Joaquim Pedro de Andrade, Carlos José Fontes Diegues foi um dos fundadores do Cinema Novo brasileiro. Como seus companheiros, ele iniciou um resgate, às vezes lírico, às vezes paroxístico, do Brasil rural, em oposição ao retrato urbano e alienado do país. O realizador Cacá Diegues, como era conhecido, morreu esta madrugada, num hospital do Rio de Janeiro.
Aguardava uma intervenção cirúrgica, mas foi vítima de complicações cardiocirculatórias, noticia a imprensa brasileira, citando a Academia Brasileira de Letras, instituição de que era membro. Tinha 84 anos. \Natural do Nordeste brasileiro, mais concretamente de Maceió, capital do estado de Alagoas, mudou-se na infância para o Rio de Janeiro. Foi no bairro de Botafogo que este futuro cineasta desenvolveu o seu talento e se consagrou como um dos maiores nomes do cinema brasileiro. Várias vezes presente na cena internacional, por exemplo no concurso do Festival de Cannes, onde também foi membro do júri, é autor de títulos que certamente marcaram a vida do espectador brasileiro. Como o filme (1976), com Zezé Mota, que conta a história de uma negra, ex-escrava, que se tornou numa das grandes figuras da sociedade de Minas Gerais do século XVIII — é um dos recordes históricos das bilheteiras do Brasil, considerado 'um dos encontros mais intensos entre a arte que os intelectuais 'cinemanovistas' ambicionavam fazer e o público que alimenta a indústria cultural'. O filme também lhe rendeu comparações com diretores como Elia Kazan ou Jeanne Moreau. \Outro dos seus filmes mais conhecidos é (1980), que figura na lista dos melhores filmes brasileiros de sempre. Um dos momentos mais melancólicos da obra de Diegues, com banda sonora de Chico Buarque, segue uma trupe de saltimbancos (José Wilker, Betty Faria ou Fábio Jr...), contando, mais do que subrepticiamente, os dias do final do país incerto e difuso que então se despedia — foi um dos filmes exibidos no final do ano passado no Festival de Cinema de Berlim. Ainda, (1995), com Sonia Braga, adaptação da obra homónima de Jorge Amado, completa o trio dos seus títulos mais conhecidos, que expõe os valores e os limites do cinema de Cacá Diegues, ou onde ele conseguiu subir e acabou por descer: a euforia, e por isso o seu envolvimento também com expressões como o teatro popular, de rua, e o samba (houve ainda, de 1962); o exotismo ou mesmo o folclorismo, acusações que não raramente lhe fizeram. Foi também um futuro, esse que é hoje o presente do cinema brasileiro. O filme (1969), proibido pela censura mas convidado a participar no Festival de Veneza, o que valeu a autorização das autoridades brasileiras para que o realizador saísse do Brasil e acompanhasse a obra, assim evitando um escândalo internacional. Cacá Diegues, na altura casado com Nara Leão, aproveitou a deixa para, durante dois anos, não voltar ao seu país.
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