Numa entrevista única, feita por escrito, Ramalho Eanes esclarece aspetos capitais do 25 de Novembro. Conta que saiu de casa armado com uma pistola, narra em pormenor o que se passou em Belém na reunião com Costa Gomes, afirma que a guerra civil esteve iminente, e pensa que Álvaro Cunhal recuou quando percebeu que a sublevação não podia vencer.
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Era princípio essencial deste grupo que a resposta apenas teria lugar para fazer face a uma iniciativa revolucionária, sendo importantíssimo que a acção fosse conduzida num quadro institucional, sob o comando do Presidente da República, como efectivamente viria a acontecer. Nessa reunião, Costa Martins, capitão da Força Aérea, garantiu, sem ambiguidade, que os ‘páras’ não aceitavam esta situação e iriam ocupar as bases aéreas. Na altura, os oficiais da Força Aérea presentes terão sossegado Otelo, dizendo-lhe que se tratava apenas de uma questão interna da Força Aérea, dos ‘páras’ contra Morais da Silva , e nada mais.
A 25 de Novembro, pelas 16h, teve início uma reunião do Presidente da República com o Conselho da Revolução. Quando estava, já, no Regimento de Comandos , com os outros camaradas, fui convocado para a reunião em Belém. Secundei-o, reiterando a necessidade urgente de responder à sublevação, pois, como ia demonstrar na apresentação da ordem de operações, as forças sublevadas, militares e civis, tinham a possibilidade real de dispor de superioridade, a que só se poderia corresponder, se necessário, com o empenho da Força Aérea. E acrescentei que o aproximar da noite tornaria esse empenhamento impossível.
Poderei adiantar que fiz o possível para que fosse outro e não eu a coordenar a execução do plano de operações. E, fi-lo, sobretudo, porque muitos dos camaradas que constituíam o estado-maior que respondeu à sublevação tinham maior antiguidade militar do que eu. Entretanto, Loureiro dos Santos, Rocha Vieira e José Pimentel iriam para a Presidência da República como elementos de ligação com o Presidente.
Por mim, resta-me acrescentar que, também no nosso espírito, esteve sempre presente o imperativo de tudo fazer para evitar uma guerra civil. Creio – e sublinho que creio – que Otelo e os seus militares, em diversas unidades do Exército, dos pára-quedistas, dos fuzileiros , da Armada e forças políticas da Extrema-esquerda, prometeram empenhar-se e vencer. O PCP teria de participar, e fê-lo.
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