Ver a cerimónia da Academida, entre a sobriedade de Mário Augusto e as luzes de Hollywood, foi encontrar no cinema um refúgio de normalidade, num tempo e numa noite particulares.
De repente, fugir para a RTP2 para ver a 96.ª cerimónia de entrega dos Óscares parecia oferecer o conforto de um sentido: festejar o melhor de um ano de cinema no único canal de televisão que privilegia as artes na sua programação. E, no entanto, sabíamos que isso apenas denunciava que, naquela noite, o filme era outro: as televisões generalistas estariam inteiramente concentradas na noite eleitoral.
E, ainda que ninguém no Dolby Theatre tivesse como saber ou sequer interesse, tudo o que se passou depois do lado de lá do mundo, algures na ensolarada Califórnia, pareceria alinhado com mesma vontade estética: encontrar no cinema um refúgio de normalidade, num tempo e numa noite em particular em que a realidade se vai tornando um lugar cada vez mais estranho.
Jonathan Glazer trazendo a guerra em Gaza para a discussão e a necessidade de resistirmos à desumanização, e Mstyslav Chernov, realizador de, vencedor do Óscar para melhor documentário e “único realizador em palco que preferia nunca ter feito o seu filme”, a guerra da Ucrânia: “Não posso mudar a história, o passado. Mas todos juntos – estão aqui algumas das pessoas mais talentosas do mundo – podemos garantir que a verdade prevalecerá.